Marcos Pontes é Entrevistado pelo Site IG Jovem


Olá leitor!

Segue abaixo uma entrevista do astronauta brasileiro Marcos Pontes postada dia 20/07 na coluna “O Que Rola meninos” do site IG Jovem.

Duda Falcão

O Que Rola meninos

Quando Crescer, Quero Ser Astronauta

Bruno B. Soraggi
20/07 - 09:11hs


No dia 20 de julho de 1969, milhares de pessoas pelo mundo inteiro acompanharam a chegada da primeira espaçonave tripulada à Lua. Finalmente a missão Apollo 11, que havia deixado a plataforma de lançamento no Estado da Flórida, nos Estados Unidos, no dia 16 do mesmo mês, aterrissava seu módulo lunar - contendo três astronautas - na superfície do satélite natural terrestre. Foi quando marcou sua primeira pegada sobre o solo arenoso daquele astro que o comandante Neil Armstrong teria dito a célebre frase: “este é um pequeno passo para um homem, mas grande um salto para a humanidade”.

No dia 1º de abril de 2006, o astronauta brasileiro Marcos Pontes se unia à tripulação da Estação Espacial Internacional como o primeiro brasileiro a botar os pés (ou melhor, flutuar) no Espaço Sideral. É claro que o feito não foi tão marcante quanto à conquista da Lua, mas para ele e os milhões de brasileiros que o acompanharam, aquele foi um importante dia por mostrar que sonhos são possíveis, desde que buscados com determinação.

Em homenagem ao 40º aniversário da primeira presença humana no satélite mais citado dentre os românticos, o iG Jovem entrevistou o primeiro (e até então único) astronauta da história do Brasil. Na conversa, o engenheiro e ex-militar conta sobre o processo de treinamento que passou na Agência Espacial Americana (Nasa), compartilha as emoções de ver a Terra de longe e revela o caminho a ser seguido por quem deseja, assim como ele, desbravar o desconhecido. “Ser astronauta é dedicar a sua vida à humanidade. Muitas vezes, literalmente”.

iG Jovem - Como você conseguiu se tornar o primeiro astronauta brasileiro?

Marcos Pontes - O caminho para ser um astronauta é um caminho pavimentado pela educação. Ela é um dos principais requisitos. No meu caso, fui Militar da Força Aérea Brasileira (FAB), onde me formei como piloto militar e depois piloto de provas. Sou Engenheiro Aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), com Mestrado e Doutorado na área de Engenharia de Sistemas. Estava no meio do Doutorado quando me inscrevi para o concurso público aberto pela Agência Espacial Brasileira (AEB) a todos os brasileiros que tivessem os requisitos necessários. Me inscrevi, concorri e fui selecionado. Isso foi em 1998. Desde então, passei a exercer as funções civis de astronauta, deixando as funções militares. Continuo à disposição do Programa Espacial Brasileiro aguardando, então, um segundo voo espacial.

iG Jovem - Quais os pré-requisitos para seguir nessa profissão?

Marcos Pontes - Os requisitos são: possuir uma formação acadêmica nas áreas de Ciências Exatas ou Biológicas, cursar Pós-Graduação/Mestrado/Doutorado – se forem na área Aeroespacial ajuda -; caso a pessoa já trabalhe nessa área, melhor ainda. Se tiver curso de piloto, paraquedismo ou mergulho, isso também contribui na seleção. Não é necessário ser militar. Isso é importante frisar: atualmente, [ser um astronauta] é uma função civil, então mesmo um militar vai ter que se tornar civil [o que significa ir para a reserva] depois que começar na profissão de astronauta. A idade tem que ser normalmente entre 25 (com menos geralmente a pessoa não tem qualificação suficiente, porque precisa de Mestrado ou Doutorado) e 45 anos. Quanto à altura, existem requisitos - para falar a verdade eu não sei exatamente quais são os limites -, mas eu digo que acima de 1,70/1,75 metros é muito difícil se encaixar em uma espaçonave daquela. Pode ser homem ou mulher A parte médica tem que estar muito em dia, então não pode fumar, não pode beber em excesso, nunca usar drogas... E tem que ter um condicionamento físico adequado para exercer a função, embora isso não seja primordial, digamos assim, porque dá para ser treinado facilmente. Mas é necessário ter um condicionamento físico adequado.

iG Jovem - Quais as maiores dificuldades encontradas no treinamento?

Marcos Pontes - A primeira é a formação acadêmica/profissional necessária, que leva muitos anos. Depois é o treinamento [na Nasa] em si, que é um treinamento muito sofrido. Ele não é forte em termos físicos, mas é bastante cobrado em termos fisiológicos, ou seja, na parte médica. A parte de estudo é extremamente cobrada: erros não são permitidos de maneira nenhuma. A parte psicológica é, logicamente, bastante cobrada também. Então são várias fases dessa etapa toda. No meu caso, como eu nunca fui um bom nadador, eu lembro que tive alguma dificuldade com a parte de água (sobrevivência em água, etc.), mas tudo isso se supera com o devido treinamento e adaptação.

iG Jovem - Como suas formações acadêmica e profissional contribuíram no processo?


Marcos Pontes - A Acadêmica, como Engenheiro Aeronáutico e como Mestre em Engenharias de Sistemas, logicamente que ajudou muito no entendimento de sistemas, como consertar e montar sistemas espaciais, entender toda essa dinâmica do sistema e das operações, etc. A parte da formação Militar que eu tive ao longo de parte da minha carreira também ajudou bastante no sentido de operação de veículos, de jatos, e como piloto de provas também. Mas eu acho que o principal de tudo foi aquela formação que a gente tem no começo da vida, com pais e professores, dizendo que é possível, que você tem que acreditar no que você quer fazer, nos seus sonhos; que é preciso trabalhar muito, se esforçar com persistência e determinação. Acho que essa é a parte, para falar a verdade, que mais influenciou no sucesso, digamos assim, de se levar a bandeira do Brasil ao Espaço.

iG Jovem - Existe alguma regulamentação para o ofício de astronauta no Brasil?

Marcos Pontes - No Brasil, não temos nenhuma regulamentação para a profissão. A gente está abrindo caminho ainda, sou o primeiro desse grupo. Eu ajudei a AEB a escrever um processo de seleção no ano 2000 em que a gente destacava os requisitos, e é isso. Por enquanto, eu tenho trabalhado junto à USP de São Carlos na montagem de um curso de Engenharia Aeroespacial, então para os jovens que pretendem ingressar nessa carreira esse curso é bastante indicado e com certeza vai ajudar bastante.

iG Jovem - Há alguma previsão de novas seleções de astronautas no País?

Marcos Pontes - No momento nós não temos nenhuma perspectiva de outra seleção, mas isso não pode desanimar aqueles que querem ingressar nessa carreira. Se me perguntassem isso na década de 80, quando eu ainda estava começando na Academia da Força Aérea, por exemplo, não havia mesmo qualquer perspectiva por um longo tempo. Hoje, nós já temos o caminho aberto, então um dia ou outro, e espero que não demore muito, nós vamos ter outra seleção. O importante é os jovens já irem se preparando para terem os requisitos quando abrir a seleção, para já estarem prontos. Portanto, seja um bom aluno, estude bastante, mantenha a saúde em dia, o que é muito importante, e pense bem no momento da decisão. É bom procurar sempre fazer as coisas pensando no futuro.

iG Jovem - Qual é a maior emoção ao se ver no espaço?

Marcos Pontes - Quando se chega ao espaço, a maior emoção é olhar de volta pra Terra, ver o nosso Planeta, o quão frágil ele é, imaginar o quão pequenos nós somos perante o restante Universo, pensar sobre a vida, ver o que é realmente importante... Perceber que coisas como a arrogância, a discriminação, nada disso faz sentido. Nós vivemos muito pouco para perder tempo com tais besteiras. O mais importante é conviver bem com as pessoas, poder deixar um legado de felicidade, de boas idéias, de otimismo; acho que a maior emoção é justamente você pensar nessas coisas e descobrir que é possível você ter uma vida feliz e que seja ligada às pessoas e nunca é tarde fazer isso. Depois, poder voltar para a Terra e constatar que jovens acompanham esse pensamento e que a gente pode ter uma esperança no futuro da humanidade; ver que esses jovens nos quais eu confio tanto na capacidade podem levar esse Planeta para um caminho muito melhor do que o caminho que foi levado até hoje.

E você, já sonhou um dia ser astronauta? Gostou da entrevista? Deixe um comentário!


Fonte: Site IG Jovem

Comentário: Grande Marcos Pontes, esse cara é um exemplo de brasileiro, de inteligência profissional, de pai e de homem para todos que acreditam numa sociedade mais justa e antenada com o universo que fazemos parte. Pena que na administração dos órgãos que comandam o PEB nos faltam pessoas de visão como ele, pois se assim fosse, não estaríamos com o nosso programa espacial na situação que se encontra.

Comentários

  1. Tive a oportunidade conhecer o Nosso Astronauta, Marcos Pontes e toda a tripulação da Soyuz da Missão Centenário, durante um evento entre o SENAI e os Correios e Telegrafos, para lançamento de um selo comemorativo da missão. O "Cara" é super gente fina. Dá orgulho de ser brasileiro. Infelizmente para alguns, tudo não passou de propaganda, e o Marcos infelizmente tem sido tachado de "caronista". Lastimável. Muita coisa tem que mudar no Brasil. Só a Educação "de qualidade" fará isto.
    Para quem não sabe, a Missão Centenário, proporcionou a várias instituições de pesquisa e a industria nacional a fazerem experimentos, que colocarão o Brasil no rumo do desenvolvimento.

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  2. Verdade Ricardo a Missão Centenário foi um marco histórico, político, tecnológico e de divulgação do Programa Espacial Brasileiro. Só que não podemos parar por ai, existe a necessidade de novas missões e possibilidades existem, já que o acordo com os russos talvez possa incluir uma nova missão, caso o Brasil assim venha demonstrar interesse. Inclusive o 3° AO (Anuncio de Oportunidade) de 21/11/2006 do Programa Microgravidade da AEB, previa para setembro desse ano o lançamento de experimentos brasileiros para ISS (International Space Station) através de uma nave Soyuz. Infelizmente como o Brasil foi expulso vergonhosamente do programa da ISS, eu não sei como vai ficar essa situação.

    Abs

    Duda Falcão

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