Amadores Contribuem Muito com a Astronomia do País


Olá leitor!

Segue abaixo uma matéria postada hoje (19/03) no site do jornal “Correio Braziliense” destacando que a astronomia no Brasil é uma das áreas do conhecimento mais beneficiadas pelo trabalho de amadores.

Duda Falcão

CIÊNCIA E SAUDE

A Astronomia é Uma das Áreas do
Conhecimento Mais Beneficiadas
Pelo Trabalho de Amadores

Observadores anônimos descobrem novos corpos,
como meteoros e supernovas, e fornecem dados
fundamentais para as pesquisas sobre o espaço

Silvia Pacheco
Publicação: 19/03/2010 - 07:00


Noite escura e céu aberto. É o que basta para Marcelo Domingues montar seu observatório particular — um telescópio com uma câmera acoplados a um computador — no quintal de sua casa, no Grande Colorado, em Brasília. Sentado numa cadeira de praia, o servidor público de 38 anos passa cerca de cinco horas observando a imensidão do espaço sideral. É dali que ele registra imagens dos objetos astronômicos que mais o atraem, os cometas. “É como um vício. O meu começou com a passagem do cometa Halley, em 1986. Porém, só aos 31 anos consegui montar todo o meu equipamento e observar sistematicamente os cometas. Não vou parar nunca”, conta.

Domingues é um dos milhares de astrônomos amadores existentes no Brasil. Divididos por gostos, mas unidos pela paixão pelos mistérios do Universo, esses homens e mulheres são na sua maioria anônimos que levam a sério o hobby de estudar o espaço. Alguns se dedicam apenas a fotografar ou a acompanhar cometas e meteoros, como é o caso de Marcelo. Outros preferem sair à caça de supernovas e galáxias próximas. O fato é que todos os tipos de observação acabam contribuindo de forma efetiva para a ciência.

Enquanto os profissionais precisam escrever um projeto e conseguir apoio financeiro para pagar o aluguel de um observatório profissional, no qual permanecem por dois ou três dias, os amadores têm a possibilidade de observar o espaço a qualquer momento, durante o ano inteiro, se quiserem. “Dessa forma, eles acabam reunindo uma quantidade muito maior de dados sobre alguns objetos astronômicos ou até revelando supernovas, ou mesmo a órbita de um asteróide”, diz Augusto Daminelli, astrônomo do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP).

Um exemplo dessa contribuição foi a descoberta de uma supernova feita pelo Grupo Brasileiro de Busca de Supernovas (Brass, na sigla em inglês), formado apenas por amadores. A nuvem brilhante era exatamente o objeto de estudo de Daminelli. “Esse grupo amador me trouxe dados que, talvez, eu jamais conseguiria obter. São estrelas com mais de 300 anos que ajudam a contar a história do Universo. Algo importantíssimo”, revela o especialista da USP. “Isso demonstra a importância do diálogo entre amadores e profissionais.”

Segundo Daminelli, diversos asteróides, cometas, estrelas e supernovas têm sido descobertos por amadores, enquanto os profissionais realizam os estudos mais aprofundados sobre a natureza desses objetos. O que, para Tasso Napoleão, membro da Brass, fortalece o diálogo e ajuda à ciência. “Astrônomos amadores são parceiros dos profissionais. Além disso, a ciência não se constrói com uma pessoa. O que fazemos são pequenos avanços com a colaboração de todos. Nossa remuneração é ver nossas descobertas publicadas nos artigos dos astrônomos profissionais”, conta, entusiasmado, Napoleão, também presidente da Rede de Astronomia Observacional do Brasil (REA-Brasil), outra organização de observadores amadores.

Tecnologia

Reunidos em grupos ou mesmo solitários, esses dedicados estudiosos compram, montam e até criam seus próprios equipamentos de observação. “Com o avanço da tecnologia e, conseqüentemente, seu barateamento, conseguimos montar observatórios com câmeras de alta sensibilidade, telescópios de alto alcance e computadores com softwares para processar os dados”, explica Cristovão Jacques, que faz parte do Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais (CEAMIG). Jacques, 47 anos, é engenheiro civil e físico. Foi ele quem desenvolveu o telescópio do observatório amador mineiro, que fica na Serra da Piedade, a 60km de Belo Horizonte. Sozinho, ele descobriu 16 asteróides — 13 deles só em 1999, quando surgiu o CEAMIG. “Observo o espaço desde os 14 anos, quando fiquei fascinado pelo brilho da Estrela d’alva (o planeta Vênus). Escolhi os asteróides (1) porque eles são mais acessíveis à observação amadora e têm necessidade de serem investigados”, justifica.

Asteróides, meteoros e cometas são os únicos objetos astronômicos que o descobridor pode nomear (2). “À minha primeira descoberta, dei o nome de Wykrota, sobrenome do casal que fundou nosso observatório. Mas também tem o asteróide Marcos Pontes, em homenagem ao primeiro astronauta brasileiro a ir ao espaço”, conta Jacques. Tantas descobertas deram ao engenheiro civil credibilidade. Hoje, ele participa do grupo internacional amador ligado à Agência Espacial Americana (NASA) que patrulha o espaço em busca de imensos asteróides (com mais de 10km de diâmetro) que possam ameaçar a Terra. Além disso, Jacques faz parte da REA-Brasil e da Brass.

Contemplação

Entre os astrônomos amadores, há aqueles que preferem apenas contemplar solitários o Universo. É o caso de Paulo Cacella. O engenheiro elétrico e servidor do Banco Central foi o primeiro brasileiro a descobrir uma supernova (3), de um jeito quase improvável: sem querer. Cacella vasculhava o espaço quando lembrou-se de uma das primeiras galáxias que fotografou quando comprou o CCD (aparelho que captura imagens do computador). Logo no primeiro registro, notou uma pequena estrela próxima ao núcleo da galáxia. ‘‘É uma supernova’’, disse a si mesmo.

A posição era suspeita, mas era preciso conferir todas as demais hipóteses. Poderia ser um asteróide, uma estrela da Via Láctea superposta na imagem ou mesmo um defeito no equipamento. O que Cacella não sabia era que aquela era uma supernova desconhecida e que ele era o primeiro astrônomo a vê-la. ‘‘Astronomia, sonhos, desejos, imagens, estética, prazer e música são drogas mais poderosas que qualquer química inventada pelo homem’’, diz Cacella, tentando descrever o que sentiu no instante de sua descoberta.

Já o servidor público Wilton Ferreira da Costa, 52 anos, observa o céu há 29 e ainda não teve a sorte de descobrir algum objeto. Sua paixão são os asteróides pequenos. “Conhecemos muito pouco os de pequeno tamanho. A estimativa é que possam existir mais de 1 milhão, com cerca de 1km de diâmetro. Há muito a ser descoberto”, afirma. Costa acrescenta que a astronomia torna as pessoas mais humildes quando se deparam com os mistérios e a grandeza do espaço. “Observar o céu nos leva a ter uma melhor noção da imensidão do Universo e da beleza dos seus objetos, além da mecânica celeste que os envolve. A cada observação, fico igualmente impressionado, como da primeira vez. Contudo, o mais impressionante é saber o quanto somos pequenos diante de toda essa imensidão.”

1 – Evolução

A supernovas são estrelas em explosão, que expelem uma nuvem brilhante e de muito interesse para os astrônomos, por conter informações sobre a evolução do Universo. Uma supernova possui todos os elementos da tabela periódica; conseqüentemente, pode causar a extinção de seres ou levar a um processo que resulte na geração de vida.

2 - Políticos, não

A União Astronômica Internacional une as sociedades astronômicas nacionais do mundo e integra o Conselho Internacional para as Ciências. A IAU é responsável pela nomenclatura de estrelas, planetas, asteróides e outros corpos e fenômenos celestes. Não é permitido, porém, dar nomes de políticos e é preciso justificar a escolha. Os dados obtidos pelos amadores são passados via internet à IAU, que os repassa aos astrônomos profissionais para serem ou não validados.

3 – Resíduos

Os asteróides são resíduos do material deixado para trás quando houve a formação do Sistema Solar, há 4,6 bilhões de anos. A astronomia conhece 99% dos asteróides com mais de 100km de diâmetro. Já no intervalo entre 10km e 100km de diâmetro foram catalogados praticamente metade deles. Os astrônomos estimam que possam existir mais de 1 milhão de asteróides com cerca de 1km de diâmetro.


Fonte: Site do Jornal do Correio Braziliense - 19-03-2010

Comentário: Pois é leitor, é a astronomia amadora brasileira contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento humano sobre o universo em que vivemos. Portanto, não perca tempo e mãos a obra. Boa sorte.

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