Certificação do VSB-30 - Artigo


Olá leitor!

Segue abaixo um artigo do Cel-Eng Carlos Kasemodel do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) publicado na revista da Associação Aeroespacial Brasileira (AAB) de (Jan-Mar de 2010) destacando a certificação do foguete de sondagem brasileiro VSB-30.

Duda Falcão

VSB-30 - Primeiro Foguete Brasileiro Certificado

Cel-Eng CARLOS ANTÔNIO KASEMODEL
IAE/ Vice-Diretor de Espaço / DCTA


No final do ano de 2009, um importante marco foi alcançado no desenvolvimento das atividades espaciais brasileiras: o foguete suborbital VSB-30, desenvolvido pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), recebeu a primeira certificação brasileira de um produto espacial.

O desenvolvimento do projeto VSB-30 teve início em 2001, por solicitação da Agência Espacial Alemã (DLR), para atendimento ao Programa Europeu de Microgravidade, em substituição ao foguete Skylark 7, que deixava de ser produzido. Estudos iniciais indicaram que os requisitos de desempenho especificados pelo cliente poderiam ser alcançados com a adição de um propulsor tipo booster (motor de decolagem) ao foguete de sondagem brasileiro VS-30.

A qualificação em solo do propulsor booster (denominado propulsor S31) foi concluída em 2003, após a realização de três ensaios de queima em banco de provas. Em paralelo, foi realizado o desenvolvimento do foguete, em cooperação com um setor do DLR denominado MORABA (Base Móvel de Foguetes).

O primeiro vôo ocorreu em 23 de outubro de 2004, durante a realização da Operação Cajuana, quando foi lançado com sucesso, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão.

Em maio de 2005, após o cumprimento de uma série de exigências documentais e comprobatórias de desempenho e segurança, o VSB- 30 foi aprovado, pela Agência Espacial Européia (ESA) a realizar vôos na Europa, transportando cargas úteis científicas Texus e Maser do Programa Europeu de Microgravidade.

O primeiro lançamento em solo europeu ocorreu em dezembro de 2005, com o vôo do VSB-30 V02, transportando a carga útil Texus EML 1, a partir do Centro de Lançamento de Esrange em Kiruna, na Suécia. Até o presente, já foram efetuados nove lançamentos de foguetes VSB-30, todos com sucesso, sendo dois lançados a partir do CLA (Operações Cajuana e Cumã II) e sete a partir do centro de Esrange.

O processo de certificação do VSB-30 no Brasil foi realizado pelo Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), com base na Resolução n.º 60, de 17 de maio de 2004, do Conselho Superior da Agência Espacial Brasileira (AEB), e na ICA 80-2, aprovada pela Portaria n.º 699/GC3, de 6 de julho de 2006, do Comando da Aeronáutica.

A certificação do VSB-30 encerra uma importante fase no seu ciclo de vida: a partir de então, o VSB-30 deixa de ser um projeto em desenvolvimento e torna-se um produto qualificado para emprego operacional, cuja produção pode ser integralmente transferida para a indústria aeroespacial brasileira. Os nove vôos bem sucedidos demonstraram o ótimo desempenho do veículo e a validade de seu processo de certificação, o que constitui uma importante realização para o País, que tem seu nicho no grupo de países detentores de bens de alta tecnologia.

O Foguete de Sondagem VSB-30

O veículo VSB-30 é um foguete bi-estágio, que tem por objetivo transportar cargas úteis científicas e tecnológicas, de 400 kg, para experimentos na faixa de 270 km de altitude. Para experimentos em ambiente de microgravidade, o VSB-30 permite, como especificado, que a carga útil permaneça cerca de seis minutos acima da altitude de 110 km.

O VSB-30 tem as seguintes características principais:

- Propulsores sólidos nos dois estágios: O primeiro estágio consiste de um propulsor booster, denominado S31 (foto de ensaio de queima abaixo), e o segundo estágio é um propulsor S30, O mesmo utilizado nos foguetes VS-30 e Sonda III;

- Jogo de três empenas em cada estágio;

- Utilização de Sistema de Indução de Rolamento (SIR) no módulo dianteiro do primeiro estágio, que utiliza três micropropulsores (PIR - Propulsor de Indução de Rolamento) desenvolvidos para o projeto VLS-1, com o objetivo de diminuir a dispersão do ponto de impacto dos motores e da carga útil. O SIR induz rolamento no foguete, o mais cedo possível, logo após a decolagem, diminuindo sua sensibilidade ao vento
.

Características físicas principais:

- Comprimento: 12.639,6 mm
- Diâmetro dos estágios: 577 mm
- Massa total na decolagem: 2.579 kg
- Massa de propelente:
- Primeiro estágio: 670 kg
- Segundo estágio: 874 kg
- Massa prevista de carga útil: 400 kg

Características de voo (carga útil de 400 kg):

- Velocidade máxima: 2.000 m/s
- Aceleração máxima: 11 g
- Mach máximo: 6,9
- Apogeu: 276 km (elevação: 87,3º)
- Tempo de microgravidade: 350 s



Fonte: Revista da Associação Aeroespacial Brasileira (AAB) - núm 03 - Jan-Mar de 2010 - Pág. 05

Comentário: Não resta qualquer dúvida da importância da certificação do VSB-30 para o programa de foguetes de sondagem brasileiro (o próximo da lista deverá ser o FTB da Avibrás, que não necessariamente é um foguete de sondagem e sim de treinamento). No entanto, estranhamente o mesmo tem sido mais usado em benéfico do “Programa de Microgravidade Europeu” em detrimento ao “Programa Brasileiro de Microgravidade” o que é na opinião do blog algo inaceitável. Essa situação faz com que a idéia do uso de foguetes de sondagens para o desenvolvimento de novas tecnologias e pesquisas através do “Programa Microgravidade” da AEB, seja sensivelmente prejudicada, devido à falta de uma seqüência consistente de vôos que permita a Comunidade Científica do país obter resultados significativos com seus experimentos em ambiente de microgravidade. Desde o lançamento do 3° AO (Anúncio de Oportunidade) em 21/11/2006 a Comunidade Científica vem aguardando a boa vontade dos órgãos controladores do PEB na concretização da chamada “Operação Maracati II”, que segundo foi divulgado recentemente somente ocorrerá em setembro desse ano, ou seja, quase 4 anos desde o lançamento do AO. Durante este período essa mesmo comunidade observou serem enviados para a Europa cinco foguetes VSB-30 e dois motores S-30 para atender o “Programa de Microgravidade Europeu”. Uma tremenda falta de respeito para com a comunidade científica do país que acreditou e aplaudiu quando da criação pela AEB do "Programa Microgravidade". Lamentável.

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