Entrevista com Eduardo Assad - Pesquisador da EMBRAPA

Olá leitor!

Segue abaixo um artigo publicado na Revista Espaço Brasileiro (Out. Nov. Dez. de 2010), destacando uma entrevista com o pesquisador, Eduardo Assad, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

Duda Falcão

Entrevista

Eduardo Assad

Em 1987, o pesquisador Eduardo Delgado Assad, teve seu primeiro contato com uma instituição espacial brasileira, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Desde então tem aliado seu trabalho na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) com o Programa Espacial Brasileiro. Juntamente com o INPE, o pesquisador participou da primeira análise de informações do satélite norte-americano National Oceanic Atmospheric Administration (NOAA) e da implementação do Sistema Integrado de Geoprocessamento e Processamento de Imagens (SPRING).

Assad é mestre e doutor em Agroclimatologia e em Sensoriamento Remoto. Há 25 anos na EMBRAPA, foi coordenador geral das pesquisas da EMBRAPA Cerrados por 17 anos, chefe-geral da EMBRAPA Informática Agropecuária e é responsável, atualmente, pelo Laboratório de Modelagem Ambiental, onde trabalham 20 pessoas entre pesquisadores bolsistas e estagiários. Criou o laboratório de biofísica ambiental, com importante apoio científico do INPE.

Em entrevista à revista Espaço Brasileiro, Assad fala sobre sua parceria e da EMBRAPA com o INPE, sobre o uso de imagens de satélites pela EMBRAPA e opina sobre como o Programa Espacial Brasileiro pode ajudar a área de pesquisa e tecnologia da EMBRAPA.

Como surgiu a parceria do senhor e da EMBRAPA com o INPE? O que já foi feito até agora?

Minha parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) começou quando conheci o diretor geral à época, Márcio Barbosa, num encontro de sensoriamento remoto no Quênia, África, em 1986. Lá, ele se interessou por minha tese de doutorado e me convidou para trabalhar no INPE. Antes disso, já estava estabelecendo contatos com o pesquisador Alberto Setzer, para estreitarmos parcerias científicas. Voltei para o Brasil um ano depois e fui contratado pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (EMBRAPA) para atuar na EMBRAPA Cerrados. Logo depois, em 1987, participei de uma banca de doutorado no INPE, quando conheci os trabalhos que estavam sendo realizados. Desde então, fizemos muitos trabalhos em parceria. O primeiro trabalho foi, ainda em 1987, com a primeira analise de informações do satélite norte-americano National Oceanic Atmospheric Administration (NOAA). Logo depois, soube que o INPE iria desenvolver o primeiro Sistema de Análise de Imagem e Sistema de Informação Geográfica – o Sitim/SGI-, em 1988. Imediatamente, me integrei a essa equipe. O INPE começou a incentivar, naquela época, a montagem dos centros regionais de sensoriamento remoto e s EMBRAPA candidatou-se para ser um desses centros – nessa época eu estava na EMBRAPA Cerrados, em Brasília. A Universidade de Brasília (UnB) também era candidata. Entendemos que era melhor para o centro que ficasse sediado na UnB porque, assim, poderia formar mais pessoas e nós poderíamos trabalhar com elas. E foi o que fizemos. Ganhamos uma boa parceria com o INPE e uma excelente parceria com a UnB, e começamos a trabalhar intensamente na melhoria e nos testes do Sitim/SGI. Com a evolução o Sitim/SGI migrou para o Sistema Integrado de Geoprocessamento e Processamento de Imagens (SPRING). Em relação ao SPRING, tínhamos uma parceria privilegiada no que dizia respeito à evolução e manutenção da ferramenta. Um dos principais resultados dessa intensa parceria foi o desenvolvimento e implementação, em todo território nacional, do Zoneamento Agrícola do Brasil, uma política pública totalmente baseada em tecnologias nacionais, originária dos laboratórios da EMBRAPA e do INPE.

Quais são os projetos futuros com o INPE?

Atualmente, a EMBRAPA coordena a sub rede Clima e Agricultura, que faz parte da Rede Clima do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e é coordenada pelo INPE. Há, também, um trabalho muito próximo com o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do INPE, com importante parceria com nosso sistema Agritempo, desenvolvido pela EMBRAPA e a Universidade de Campinas (UNICAMP). Numa outra vertente, todos os trabalhos de mudanças climáticas e agricultura desenvolvidos nos laboratórios da EMBRAPA utilizam os resultados dos modelos fornecidos pelo INPE, no Centro de Ciências do Sistema Terrestre (CCST).

Com é feito o uso de satélites pela EMBRAPA?

A EMBRAPA tem uma estrutura de 16 unidades que trabalham com sensoriamento remoto e geoprocessamento. Por exemplo, a EMBRAPA Florestas usa o sensoriamento remoto para ajudar no monitoramento de florestas; a EMBRAPA Solos o usa como ferramenta auxiliar no mapeamento de solos; a EMBRAPA Cerrados para avaliar a cobertura do solo e a produtividade de pastagens; a EMBRAPA Soja utiliza as imagens para monitorar a ocupação de soja no Brasil. Resumindo, várias unidades da EMBRAPA usam imagens de satélites como informação auxiliar para seus trabalhos efetivos de campo e de laboratório. Eu sou da EMBRAPA Informática, que usa imagens de satélites para avançar em pesquisas de modelagem ambiental e mudanças climáticas, no Laboratório de Modelagem Ambiental em que trabalham oito doutores e 12 estagiários, além de uma parceria com grupo de especialistas da Universidade de Campinas (UNICAMP), com quatro doutores e 20 estagiários.

Quais satélites prestam serviço para a EMBRAPA? Levando em consideração as necessidades da EMBRAPA, em que tipo de satélite o Brasil deve investir?

Nós, da EMBRAPA Informática, trabalhamos muito com o National Oceanic Atmospheric Administration (NOAA), Modis, Land Remote Sensing Satellite (LANDSAT), o Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), além da família de satélites alemão Rapideye. O Brasil deve tentar desenvolver satélites de média a alta resolução espacial, com alta resolução temporal (também conhecida como tempo de revisita). Se isso não for feito, haverá dificuldades da Embrapa em utilizar as imagens para monitorar a agricultura brasileira.

Qual o impacto direto dos serviços da EMBRAPA no dia-a-dia da população? Quem são os mais beneficiados?

Não sei dizer o impacto direto. Não é como o Programa de Desmatamento da Amazônia (PRODES), do INPE, que tem impacto direto de informações sobre o desmatamento da Amazônia. Mas há informações que ajudam muito, por exemplo, na estimativa de ocupação de área plantada e em vários projetos de previsão de safra. Os mais beneficiados são o Governo Federal, centros de pesquisa e empresas privadas maiores que tem condições de utilizar este tipo de informação. Nossa meta é, pouco a pouco, fazer com que todos possam ter acesso a essas imagens indiretamente, as informações geradas pelas imagens alimentam o Sistema Agritempo (www.agritempo.gov.br) que fornece informações agrometeorológicas para o setor agrícola nacional, e tem anualmente, em torno de dez mil acessos por dia.

Quais os objetivos alcançados pela EMBRAPA com o uso de satélites até hoje?

A EMBRAPA já realizou muita coisa com o uso de satélites. Foi desenvolvido, por exemplo, no Laboratório de Biofísica Ambiental, da EMBRAPA Cerrados, o zoneamento agrícola de riscos climáticos. Isso é, talvez, a maior realização do Ministério da Agricultura no desenvolvimento de algo operacional para área rural baseada em geotecnologias. Não foram somente imagens de satélites – foram as imagens de satélites e o sistema geográfico de informação. A aplicação do conhecimento em geoprocessamento foi incorporada na empresa e repassada para o Ministério da Agricultura. Isso foi muito importante. Hoje, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento realiza mais de 600 zoneamentos por ano, atualizando as variabilidades climáticas nas análises de risco que são feitas. A instituição começou, também, a utilizar com mais freqüência imagens de satélites para fazer, por exemplo, monitoramento das informações de índice de vegetação e produtividade primária de alguns produtos que existem na agricultura, principalmente pastagem. Isso tem ajudado muito. As imagens de satélites são utilizadas em diversas ações da EMBRAPA para fazer mapeamento de solo em biomas diferenciados, uso e ocupação do solo e análises ambientais. Resumindo, o uso de imagens pela EMBRAPA é, hoje, uma rotina.

Como o Programa Espacial Brasileiro poderia ajudar, de forma efetiva, a área de pesquisa e tecnologia da EMBRAPA?

Buscando mais interação com a EMBRAPA, principalmente no que diz respeito a necessidades dos tipos de sensores que a instituição precisa. Muitas vezes achamos que as informações oriundas do espectro visível são suficientes. Não são. Deve-se atuar mais no visível, infravermelho próximo, infravermelho termal, etc. É importante haver imagens com alta resolução temporal e espacial. Este tipo de interação seria importante para as condições da EMBRAPA sejam ampliadas e as necessidades de monitoramento atendidas. Acredito, também, que a EMBRAPA pode utilizar mais o potencial do Laboratório de Integração e Testes do Programa Espacial Brasileiro, para verificar como determinados organismos – principalmente na área de microbiologia de solo -, e até mesmo determinadas bactérias, se comportam em ambientes de baixa gravidade. Isso ajudaria muito em sistemas agrícolas futuros. Outro ponto importante é auxiliar a pesquisa agrometeorológica tendo apoio da EMBRAPA nos testes e validação de futuros satélites meteorológicos brasileiros. O mesmo pode ser dito no caso de se desenvolverem satélites baseados em hiperfrequência. Enfim, um grande número de trabalhos poderá ser desenvolvido em conjunto com a competência da EMBRAPA em Agricultura Tropical, aliada ao desenvolvimento de novos satélites brasileiros. A EMBRAPA e o programa espacial têm tudo para ficarem bem colocados na corrida espacial.


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - num. 10 - Out. Nov. Dez. de 2010 – págs. 05, 06 e 07

Comentários

  1. Caro Duda,

    Obrigado por nos trazer essa reportagem e parabéns à revista por tê-la feita.

    Esse é, não só, um relato histórico como uma amostra do desenvolvimento das geotecnologias em nosso País.

    Um abraço.
    Sadeck
    http://geotecnologias.wordpress.com/

    ResponderExcluir
  2. Olá Sadeck!

    Não há o que agradecer amigo, estamos aqui para ajudar na divulgação do Programa Espacial Brasileiro e suas Ciências correlatas. A entrevista com o pesquisador Eduardo Assad foi muito esclarecedora sob vários aspectos e assim foi postada no blog.

    Abs

    Duda Falcão
    (Blog Brazilian Space)

    ResponderExcluir

Postar um comentário