Formação de Recursos Humanos para o Setor Espacial

Olá leitor!

Segue abaixo um artigo publicado na Revista Espaço Brasileiro (Out. Nov. Dez. de 2010), destacando a formação de recursos humanos para o setor espacial.

Duda Falcão

Formação de Recursos Humanos
para o Setor Espacial

Himilcon de Castro Carvalho


Não é difícil concordar que um país do porto do Brasil, com aproximadamente 8.5 milhões de quilômetros quadrados e mais de oito mil quilômetros de costa marítima, precisa ter de uma capacidade própria de geração de imagens do seu território ocupada por cidades que crescem continuamente, florestas a serem protegidas e preservadas ou plantações para o agronegócio. Sem isso não há como fazer avançar as grandes políticas nacionais, sejam as de proteção ambiental, de comércio exterior ou de defesa. Mas é impossível ter imagem de um território tão grande se não o fizermos do espaço.

Entretanto a carência de especialistas nas diversas disciplinas envolvidas no desenvolvimento de sistemas espaciais é uma questão permanente a ser resolvida para que o País possa ter o domínio das tecnologias espaciais e posicionar-se com autonomia e soberania no cenário internacional.

No Brasil, aproximadamente 3400 técnicos, cientistas e engenheiros trabalham diretamente na atividade espacial incluindo o governo e o setor privado e há uma carência imediata de 2000 especialistas. Os orçamentos do Programa Espacial Brasileiro giram em torno de R$ 300 milhões por ano, com uma taxa de crescimento que aponta para uma necessidade urgente de formação de novos recursos humanos para dar continuidade e suporte às atividades de pesquisa e à indústria nos próximos anos.

De modo sucinto, o projeto e desenvolvimento de sistemas espaciais deve, primeiramente, levar em conta a missão a ser executada e como ela se beneficiará, técnica e economicamente, do uso do espaço. Definida a missão do sistema espacial, ela deve, em seguida, ser traduzida em requisitos de natureza funcional, operacional e restrições, que são imposições ao projetista, em termos de custos, prazos, tecnologias a utilizar ou não – como a nuclear, por exemplo – e regulamentos quanto às telecomunicações, entre outros.

Juntamente com essas tarefas típicas da engenharia de sistemas e de requisitos, as atividades voltadas ao detalhamento e projetos elétrico, mecânico e térmico de subsistemas e equipamentos, à qualidade e confiabilidade,aos sistemas de controle de solo e à seleção de lançadores devem ser organizadas em uma estrutura de gerenciamento que garanta o sucesso da missão por meio de fase de desenvolvimento (concepção, projeto preliminar, projeto detalhado, construção, integração e testes, lançamento, operação e fim-de-vida) e revisões intermediárias.

Nesse contexto pode-se constatar a interdisciplinaridade envolvida na atividade espacial que inclui entre outras, especialidades tão distintas como as de engenharia de sistemas, telecomunicações e controle orbital.

Entretanto, deve-se ter em mente que muitas dessas disciplinas, apesar de constarem do currículo de diversos cursos de engenharia, física ou química, por exemplo, em nível de graduação e pós-graduação, não tem assegurado o domínio nacional de várias das tecnologias essenciais ao desenvolvimento autônomo de sistemas espaciais.

Exemplo notável e o dos sensores inerciais de alto desempenho, tecnologia cada vez mais restrita no âmbito dos países aderentes do MTCR (Missile Technology Control Regime), entre os quais o Brasil e a maioria de seus parceiros tradicionais para a transferência de tecnologia. Dado o caráter dual (civil-militar) dessas tecnologias, torna-se cada vez mais difícil a sua aquisição por meio de mecanismos de transferência ou mesmo de pós-graduação no exterior.

Daí a necessidade de um esforço coerente e coordenado por diversas agências de fomento à pesquisa e ao ensino, para que se forme no Brasil uma base de talentos especializados que trabalhem tanto no setor acadêmico quanto na indústria. Esse esforço já começou com iniciativas isoladas, como o programa Uniespaço, coordenado pela Agência Espacial Brasileira (AEB), e cursos em nível de graduação, mestrado e doutorado oferecidos por algumas universidades e centros de pesquisa como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do ABC (UFABC) e Universidade de Brasília (UnB), como mostra a tabela abaixo.


É, portanto, de extrema relevância que o próximo Plano Nacional de Pós-Graduação, em elaboração pelo CAPES/MEC, inclua, pela primeira vez, o setor espacial com área de interesse nacional para o desenvolvimento de ações de fortalecimento do ensino de pós-graduação no país. Trata-se de uma iniciativa de enorme importância, que trará o setor acadêmico mais próximo do Programa Espacial Brasileiro e contribuirá diretamente para que o País alcance níveis de autonomia em tecnologia espacial que o posicionem de modo firme e soberano no cenário internacional.


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - num. 10 - Out. Nov. Dez. de 2010 – págs. 22 e 23

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