Lobby Força a AEB a Adquirir Nova Versão da PMM

Olá leitor!

Segue abaixo um artigo postado no “Jornal do SindCT” de abril de 2013, jornal esse editado pelo “Sindicato dos Servidores Públicos Federais na Área de C&T (SindCT)” destacando que um lobby de empresários do setor forçou a Agência Espacial Brasileira (AEB) a adquirir a segunda versão da Plataforma Multimissão - PMM.

Duda Falcão

Tecnologia

Lobby de Empresários Força
AEB a Adquirir Novo Satélite

Dinheiro público: entenda porque a compra
da versão 2 da PMM foi precipitada

Jornal do SindCT
Abril de 2013


A Agência Espacial Brasileira – AEB, em novembro de 2012, realizou a compra da segunda versão da Plataforma Multimissão - PMM, sem ter finalizado a primeira.

O fato gerou especulação em torno do tipo de relação que há entre os caciques do governo e as empresas, já que o curso natural de um projeto novo seria a espera da conclusão do primeiro, com finalização dos testes individuais de qualificação, integração e lançamento, qualificando-o no espaço, para então adquirir o segundo satélite.

A decisão sobre a compra teria ocorrido depois de um workshop realizado em Brasília, em setembro de 2012, quando na ocasião as empresas teriam feito lobby junto à AEB, alegando que precisariam dar continuidade ao projeto, caso contrário, não conseguiriam manter a equipe técnica dentro das empresas correspondentes. Logo depois, em novembro, houve a compra, conforme relatou uma fonte que pediu para não se identificar.

A PMM passa hoje por um grave problema com relação aos prazos, e já custa para o país cerca de R$ 250 milhões, fora os custos com viagens e diárias. A primeira versão da PMM terá o satélite Amazônia-1 como carga útil. Seu objetivo será cobrir os “pontos cegos” não imageados pelo satélite CBERS 2B, que já se encontra fora de operação, identificando áreas de desmatamento na Amazônia.

No entanto, ao que tudo indica, o CBERS 3, mesmo com seus atrasos, será lançado bem antes do Amazônia-1. Apesar de o satélite Amazônia 1 ter fugido do seu objetivo inicial, ele ainda tem sua importância, porque é a primeira vez que se projeta e se produz alguns subsistemas complexos de satélites, como o computador de bordo e o sistema de controle de atitude, importados da Argentina, e o sistema de propulsão, desenvolvido por empresas nacionais.

Um satélite desse porte, com cerca de 500 kg, não poderia demorar mais do que cinco anos para ficar pronto; entretanto, o contrato já se arrasta por mais de 12 anos. De acordo com seu último cronograma, só ficará pronto em 2016, caso não haja novos imprevistos.

Técnicos do INPE apontam a falta de comprometimento por parte das empresas como principal problema pelo atraso. Atribuem como fator determinante a quantidade de componentes sobressalentes para uso em testes. Isso acontece porque as empresas costumam comprar um número insuficiente em seus lotes com o objetivo de reduzir os seus custos. Mesmo com reuniões exaustivas no INPE para tentar um entendimento sobre o assunto, o problema continua a ocorrer, relata uma fonte.

Se o atraso fosse por questão de desenvolvimento de tecnologia, até poderia se justificar, mas não é o caso, já que a maioria dos componentes já possui domínio tecnológico brasileiro ou são importados com qualificação. Em decorrência dessas e de outras falhas, o contrato já possui 14 termos aditivos, principalmente para correção inflacionária por consequência do tempo.

Inclusive, o Tribunal de Contas da União – TCU auditou o contrato, tem questionado esse número exagerado de alterações de valor, e já proibiu novos aditivos.

Teoricamente, seria o caso de notificar as empresas e multá-las por atraso de cronograma e falta de atendimento aos requisitos; no entanto, de acordo com os técnicos, diversos relatórios e atas foram enviados à AEB e até hoje não tomaram as medidas legais contidas no próprio contrato.

Onde Mora o Problema na Aquisição da Versão 2 da PMM?

A PMM é como se fosse um caminhão com carroceria. Nela vai a carga que se deseja utilizar para aquela determinada tarefa. No caso da primeira versão, ela vai levar a carga útil do satélite Amazônia 1, que terá a missão de monitorar a região Amazônica.

Já a versão 2, vai levar a carga de um satélite que possui dois objetivos: monitorar a Terra e também gerar dados para estudos geofísicos (buraco negro, por exemplo).

Portanto, cargas podem ser alteradas, mas a PMM é a mesma, exceto por algumas pequenas adequações. Atualmente, a PMM que receberá o Amazônia-1 possui os seguintes subsistemas prontos para lançamento: a estrutura, o sistema de propulsão e o Sistema de Controle de Atitude e Órbita, que inclui o computador de bordo. Os outros subsistemas ainda estão passando por qualificação, como é o caso do controle de potência, da antena, e de outros equipamentos.

A parte de cablagem (ligação elétrica entre os vários subsistemas) e os testes térmicos ainda não foram implementados. Inclusive, a licitação para a contratação da fabricação da cablagem ainda nem foi aberta.

A qualificação individual de cada subsistema não garante o funcionamento do satélite como um todo.

É preciso que seja feita a qualificação integral do satélite, com todos os seus subsistemas em operação, para se ter a garantia de que tudo funcionará bem, uma vez posto em órbita. No caso da PMM 1, esta etapa ainda está longe de acontecer. Portanto, a aquisição de uma segunda PMM, sem que a primeira tenha sido concluída e submetida a todos os testes, é algo extremamente temerário.

O uso do computador de bordo, do sistema de atitude e do sistema propulsivo, por exemplo, estão sendo feitos pela primeira vez e, por isso, não se sabe se irão funcionar adequadamente quando submetidos ao ambiente agressivo do espaço.

Proteus é a PMM Francesa

A PMM é uma cópia do satélite francês Proteus. A diferença é que este já foi amplamente testado por meio de várias missões espaciais bem sucedidas, com o lançamento dos satélites Jason-1 (2001), seu sucessor Jason-2 (2008) – ambos projetados para se medir a topografia oceânica –; o satélite Calipso de meteorologia (2006), o mais conhecido de todos; Corot (caçador de exoplanetas), um satélite de sismologia estelar (2006); e o SMOS (2009), dedicado a medir a umidade do solo e a salinidade dos oceanos. Na sequência, está previsto para 2013 o lançamento do satélite Jason 3, com a mesma missão dos seus antecessores.


Fonte: Jornal do SindCT - Edição 22ª - Abril de 2013

Comentário: Meu Deus que confusão. Não é por acaso que esse Satélite Amazônia-1 não saiu até hoje. Tá feia a coisa.

Comentários

  1. Mais uma vez, espantoso.

    Esse sindicato, vem a público "denunciar" que empresas estão fazendo o seu trabalho, ou seja, tentando produzir para não falir, só lembrando que essas empresas, que diferentemente do sindicato "corre atrás" dos seus interesses, empregam pessoal de tecnologia. Só que estes, não tem emprego garantido. Se o desempenho econômico e financeiro da empresa não for bom, eles vão ser DESPEDIDOS !!!

    Agora me digam, qual empresa de alta tecnologia no Mundo, consegue sobreviver com uma encomenda a cada década?

    Ora, repassar tecnologia, para que empresas privadas produzam o artefato de maneira mas eficaz do que um órgão público, é natural. Mas esperar que empresas sobrevivam num sistema capitalista sem encomendas é ser como dizem por ai, "romancear" as coisas.

    É uma incoerência atrás da outra. Esses sindicatos, as vezes parece que querem mudar o regime político do país. Os Lobbies, são ações naturais das empresas capitalistas, isso ocorre em todo o mundo o tempo todo.

    Já os sindicatos, em outros países, também fazem loby e pressão de todo tipo para defender: não só bons salários e benefícios extras para a categoria que representam, como também influenciam nas decisões políticas e técnicas visando a melhoria das condições gerais de emprego da sua classe.

    Um exemplo que deve ser bem claro para todos, é o do sindicato dos metalúrgicos, que força a permanência dessa prioridade rodoviária na política de desenvolvimento do país, quando TODOS SABEM, que as ferrovias são muito mais eficientes em TODOS os aspectos.

    Só não vê quem não quer.

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  2. So uma coiso digo: lambança!
    Ver se claramente falta de foco e má gestão dos parcos recursos que o PEB possui. Tanto por parte do Inpe, tanto pela AEB e pelas empresas envolvidas.
    Por isso que sou a favor de uma "Prime Contractor" brasileira para aumentar a eficiênca em gestão de projetos e eliminar esses arcabouços burocráticos de licitação para tudo.
    Tomara que a Visiona se torne isso.

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  3. Olá Duda,

    O trecho da reportagem "... é a primeira vez que se projeta e se produz alguns subsistemas complexos de satélites, como o computador de bordo... " está incorreto. Uma carta corrigindo tal informação foi enviada pelo Grupo de Supervisão de Bordo do INPE e publicada na edição de nr. 23 do Jornal do SindCT. A carta gerou interesse do Sindicato, o que levou à matéria de centro da mesma edição. Se você tiver acesso ao Jornal (não encontrei uma edição digital para te enviar), sugiro que publique a correção. Até mais,

    Fabrício.

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