Expectativas e Projeções de Um Brasileiro Desiludido

Olá leitor!

Amauri Silva Montes
Navegando na net descobri que em 26 de novembro de 2015 o pesquisador Amauri Silva Montes , Coordenador Geral de Engenharia e Tecnologia Espacial do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), realizou no “Auditório Fernando de Mendonça” do Laboratório de Integração e Testes (LIT) deste instituto, uma palestra muito interessante sobre o Programa Espacial Brasileiro (PEB).

O pesquisador do INPE iniciou sua apresentação com uma frase muito interessante que transcrevo abaixo para você leitor.

“O Programa Espacial Brasileiro só faz sentido quando
possibilita de forma eficaz o domínio da alta tecnologia,
a qual é essencial para o país tanto sob o ponto de vista
de desenvolvimento como de soberania e defesa”,

Amauri Silva Montes / INPE

Bom, note que nessa frase o pesquisador iteano não inclui diretamente a parte comercial que envolve a tecnologia espacial, apenas indiretamente quando cita a palavra desenvolvimento, que como sabemos também inclui o desenvolvimento da indústria, e consequentemente da colocação de novos produtos e serviços espaciais no mercado nacional e internacional.

Entretanto o que deve motivar principalmente o desenvolvimento da tecnologia espacial no Brasil é a consolidação de nossa soberania e independência tecnológica visando atender as nossas necessidades científicas, tecnológicas e de Defesa, sendo a parte comercial deste processo apenas o resultado das ações nestas áreas.

Como exemplo citamos a China, país que desde o inicio se preocupou em consolidar o seu Programa Espacial estabelecendo a infraestrutura física, humana, legal e logística necessária, para então entrar firme no mercador internacional oferecendo serviços e tecnologia, ou seja, primeiro arrumou a casa, para depois ir à luta.

No caso do Brasil apesar de temos 55 anos de atividades espaciais, o pouco realizado ainda durante os governos militares e pelo Governo Sarney, foi destruído ao longo de sucessivos governos civis desastrosos que se seguiram, desde o Governo de Fernando Collor de Mello, ou seja, partirmos de uma casa que estava sendo aos poucos arrumada, para um completo CAOS, um barco sem rumo e sem qualquer perspectiva de futuro.

No ano passado o Sr. José Raimundo Braga Coelho, presidente de nossa inócua e insignificante Agência Espacial de Brinquedo (AEB), andou dizendo irresponsavelmente na mídia que o Projeto do VLM-1 tinha a previsão de realizar seu voo de qualificação em 2018, mas como tem se confirmado durante a sua gestão e de outros que passaram pela direção desta piada chamada AEB, durante a última reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no Sul da Bahia, o mesmo realizou com a maior cara de pau uma palestra sobre, pasmem, a Evolução do PEB (veja aquipara estimular o debate, esperei até na época que algum leitor tivesse notado esse detalhe e dissesse alguma coisa, mas infelizmente isto não ocorreu) com outra conversa, dizendo que este voo se realizará em 2018/19, repetindo o mesmo processo de desinformação enfrentando pelo VLS-1, durante toda época desses governos civis de merda.

Mas deixando isso pra lá e voltando a palestra do pesquisador do INPE, o mesmo apresentou ao público presente como é o PEB atual e algumas sugestões suas organizacionais para o programa e também indicou o caminho a ser seguido pelo instituto na área de satélites até o ano de 2020 (veja abaixo), coisa que, fique bem claro para o leitor, dependerá muito de como o programa será conduzido até esta data.

Como funciona atualmente do Sistema Nacional
de Atividades Espacias (SINDAE)
Como deveria funcionar o SINDAE
proposto pelo pesquisador iteano.
Programação de satélites do INPE até 2020.

Na imagem que consta da programação de satélites do instituto, o leitor pode agora estar se perguntando que satélite é esse que aparece como pequeno satélite a ser lançado em 2018?

Pois então leitor, acontece que o INPE andou conversando com o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) a possibilidade do desenvolvimento de um satélite para ser lançado durante o voo de qualificação do VLM-1 em 2018. Assim sendo, creio eu que esse seja um SATEC (Satélite Tecnológico) semelhante ao SATEC-1 perdido no acidente do VLS-1 durante as atividades da “Operação São Luís” em agosto de 2003, mas vale lembrar leitor que, segundo o que disse o presidente da AEB durante a tal reunião da SBPC, esta data prevista pela imagem do INPE já foi para o espaço.

A imagem também mostra satélites de pequeno porte do PESE (Programa Estratégico de Sistemas Espaciais) da FAB e o antigo e renovado Satélite Científico EQUARS, todos tendo como objetivo (creio eu) serem no futuro cargas uteis no tão aguardado Veículo Lançador de Microssatélites (VLM-1).

E por fim a imagem mostra também a família de Satélites Amazônia (1,1B e 2), todos eles  baseados e dependentes da conclusão do Projeto da Plataforma Multi-Missão (PMM), sendo que os dois primeiro com previsão de estarem no espaço até 2020.

Porém o leitor chateado como eu com tudo que esta acontecendo com o nosso Programa Espacial (e tendo toda razão), pode esta pensando, mas Duda nós já estamos no final de julho de 2016, o que de concreto podemos ainda esperar do nosso ‘Patinho Feio’ para este ano?

Ora leitor, costumamos dizer que, “a única coisa certa no PEB é que não há nada certo” e, portanto, até onde eu sei só existem expectativas, e uma delas exclusivamente dependente da atitude dos gestores do PEB e as outras duas dependentes de ações de órgãos internacionais.

A primeira delas foi estabelecida durante a realização em maio deste ano no CLA da reunião do Grupo de Interfaces de Lançamento (GIL 1/ 2016), e tratou-se da “Operação Rio Verde”, operação esta que visa o lançamento de um foguete VSB-30 tendo a bordo quatro experimentos científicos e tecnológicos visando atender a primeira etapa do 4ᵒ AO (Anúncio de Oportunidades) do “Programa Microgravidade” da nossa Agência Espacial de Brinquedo (AEB), voo este que está previsto para acontecer de Alcântara em outubro deste ano.

Experimentos científicos e tecnológicos selecionados para o voo são:

* Solidificação de Ligas Eutéticas em Microgravidade, do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Chen Ying An;

* Efeitos da Microgravidade Real no Sistema Vegetal de Cana-de-Açúcar, da professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Katia Castanho Scortecci;

* Plataforma de Aquisição para Análise de Dados de Aceleração II (PAANDA II), do professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Marcelo Carvalho Tosin; e

* Novas Tecnologias de Meios Porosos para Dispositivos com Mudança de Fase, da professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Marcia Barbosa Henriques Mantelli.

Já leitor, as outras duas expectativas para este ano, como eu disse estão na dependência de ações de agencias internacionais e não mais da AEB ou de qualquer órgão ligada ao nosso ‘Patinho Feio’. São elas:

* O lançamento do nanosatélite 14-BISat do Instituto Federal Fluminense (IFF), satélite este que está no momento previsto para ser lançado dos EUA pelo foguete ANTARES 230, em 30 de dezembro deste ano.

* O lançamento do nanosatélite ITASAT-1 do Instituto de Aeronáutica e Espaço (ITA), satélite este previsto neste momento para ser lançado dos EUA pelo foguete FALCON 9 v1.2, em dezembro deste ano, mas ainda sem uma data definida.

Pois é leitor, e as únicas coisas que posso acrescentar, além do que foi já dito, são as possíveis operações dos chamados foguetes de treinamento do Programa FOGTREIN, que poderão até o final do ano serem realizadas em algum momento em ambos os centros de lançamentos do país, e também não posso deixar de citar o significativo “VI Fórum de Pesquisa e Inovação do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI)”, a ser realizado de 07 à 09 de novembro deste ano, evento este que prevê inicialmente (pode ser alterada ainda) os seguintes macroeventos:

* Inauguração e/ou apresentação à comunidade do Centro Vocacional Tecnológico - Espacial (CVT-Espacial);

* Apresentação acerca do Projeto da Plataforma Hipersônica de Lançamento Orbital (PHiLO);

* Realização do 3º Encontro de Hipersônica (CLBI, IEAv, UFRN, INPE, AEB, ITA);

* Presença da Competição Brasileira Universitária de Foguetes (COBRUF), com possibilidade de lançamento de foguete experimental;

* Presença de uma equipe de alunos alemães da Universidade Técnica de Munique (TUM) com possível lançamento de foguete experimental (saiba mais aqui);

* Presença de pesquisador da Rolls Royce como keynote speaker na área de turbinas;

* Presença do Ministro do MCTIC, do Presidente da AEB e do Diretor do DCTA;

* Palestra de um representante do Centre Spatial Guyanais (CSG);

* Palestra do Astronauta Marcos Pontes como keynote speaker;

* Lançamento de Foguete de Treinamento Básico (FTB);

* Divulgação do Livro "TRAMPOLIM PARA O ESPAÇO: meio século de contribuições da Barreira do Inferno para o desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro", de autoria do ex-servidor do CLBI, Engenheiro Keble Danta Rolim;

* Divulgação do Livro "LÓGICA DE PROGRAMAÇÃO: Aprendendo a Programar" de autoria do Oficial da Força Aérea Brasileira, Ten Rubens Campos de Almeida Junior;

* Apresentações culturais e/ou musicais;

* Minicursos, palestras, mesas redondas, dentre outros.

Evento este que terá como um dos seus temas a “EDUCAÇÃO E O ESPAÇO”, e diante disso, esperamos possa contar com a participação do Prof. Carlos Canalle representando a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), bem como o Prof. Carlos Henrique Marchi da UFPR, este representando a recentemente criada Associação Brasileira de Minifoguetes (ABMF).

Duda Falcão 

Comentários

  1. Olá Duda.

    Com essa desilusão quanto ao nosso programa espacial, acreditas que seja viável jovens manterem-se na área espacial com vista especificamente ao desenvolvimento da área no Brasil?

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    1. Caro Brehme, boa noite!

      Olha, a única esperança que resta seja no PEB ou para o Brasil como um todo são vocês os jovens. Minha geração dos anos 80 já foi, e em minha opinião falhou estrondosamente, muitos até se corromperam, e por isto a situação se agravou de lá para cá. Caberá a sua geração dar inicio a mudança cultural, ética e de educação baseada na Cidadania, para que um dia não só o PEB possa fazer a diferença, bem como transformar o Brasil numa grande nação, respeitada e admirada como deve ser diante de seu gigantismo. Precisamos de cidadãos lideres, portanto seja um e ajude a construir este país. Será este Caro Brehme o legado que você e sua geração pode deixar, ou fracassar como fracassou a minha e as anteriores.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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    2. Olá Duda.
      Realmente, a minha geração necessita deixar algum legado para mudar isso. Espero poder iniciar esse legado a partir do ano que vem, dependendo dos recursos que a instituição poderá disponibilizar. Acredito que o maior legado nesse momento seria mostrar a geração seguinte, a importância das tecnologias espaciais e os benefícios que isso traz a sociedade, por isso abracei a ideia do projeto de educação espacial por meio de cansat.

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    3. Olá Brehme!

      Concordo contigo, porém jovem amigo o maior legado que a sua geração pode deixar para próxima seria a compreensão da importância da CIDADANIA se quisermos construir uma verdadeira nação. Quanto ao trabalho que você está realizando (estou no aguardo por maiores detalhes para podermos divulgar), insisto na questão da CIDADANIA contigo, pois você pode ajudar muito com isto dentro do seu projeto. Fique atento.

      Forte abraço

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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  2. Brehme de Mesquita, no dia que você entender o por quê da FAB nunca ter feito um lançamento Sub-Orbital tripulado com um Foguete Brasileiro e em território Brasileiro, aí você começará entender que existe barreiras desde no início da 2° mundial sobre o Brasil e que até hoje não foram desfeitas, será que você percebe isso e quem está por trás de tudo isso ?

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  3. Olá Stone Vox,

    Tenho noção dos embargos extraoficiais porquê ouvi algumas histórias durante a minha fase de discente do INPE. A pergunta sobre a viabilidade de ainda incentivarmos jovens a seguirem o caminho da aeroespacial é que o governo incentivou a abertura de cursos de engenharia aeroespacial em algumas universidades, todavia, o que eu conversei com colegas do INPE, o PEB não mantém-se como um programa institucional que justificativa esse demasiado número de vagas.

    Então, o jeito é fechar cursos? Não. Acredito que o governo necessita assumir sua parcela de responsabilidade quanto a esse surgimento de mão de obra bastante qualificada.

    Agora, já estão falando da abertura de um Campus do ITA no Maranhão com a abertura de uma engenharia aeroespacial. Para mim, seria magnífico poder ter contato com esses futuros professores aqui no Maranhão, mas também sei que um programa desse tem uma responsabilidade enorme em criar mão de obra qualificada e não aproveitar.

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  4. Acho curioso que sempre que discutem uma estrutura para o PEB mantêm o IAE como desenvolvedor. Entretanto, no ministério da defesa, o material bélico (de interesse exclusivo das forças armadas) são desenvolvidos e produzidos na indústria (inclusive a FAB através da Embraer, Avibrás e Mectron). São então testados pelas forças armadas ( vida campo de provas da Marambaia entre outros). Surge a pergunta: então porque que a FAB quer desenvolver os lançadores ? que não são de interesse exclusivo das forças armadas. Como se justificar 13 anos sem conseguir sequer reproduzir o que já havia sido projetado e construído ? Até quando vamos continuar nos enganando a nós mesmos ?

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